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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

domingo, 28 de outubro de 2012

texto sobre make make

Anexo

O criador do Universo (Deus-criador, Make Make) empunhando um ovo do qual saiu o Universo. Criador que, por seu turno está dentro de um suposto ovo (a pedra). Ovo que, por sua vez, reverbera (com) o outro ovo empunhado por Make Make. Fazendo com que o exterior e o interior se virem ambos do avesso. Numa reciprocidade que confere sentidos novos ao que habitualmente se entende por interior e exterior. Portanto, transformando-se, ou trans-mutando-se a tal ponto que não deixam, porém, de ser cada um o que é, mas de outra maneira. O próprio avesso desloca-se nessa volta. Ao modo de uma desfasagem. Dando um efeito espectral. Como quando se chama "fantasma" à imagem da televisão desfocada, cujas linhas delimitadoras se duplicam, ou se multiplicam.
Pois há um movimento no próprio movimento. Pelo que avesso é o direito de outro modo e vice-versa. Tal como o exterior é o interior de outro modo e vice-versa. Mas o avesso também se duplica. Surge então a própria dobra do avesso (duplicidade), o qual já por si é dobra (dúplice).
O espectro, o espectral revela-se como um índice do que virá a denominar-se mais tarde 'modelo' (o 'Paradeigma' em Platão).
Atenhamo-nos à duplicidade 'dobra-do-avesso' sem especular sobre a dobra, i.e., a duplicidade dessa mesma dobra. Então, a desfocagem que emerge como terceiro elemento imanente aos dois elementos em movimento da dobra-do-avesso, é o efeito espectral ou fantasmal (simulacro originário emergente) que, com o tempo, definindo-se enquanto tal na sua desfocagem, relevará, num processo de abstracção, enquanto "eidos". E virá tambem a chamar-se, mais abstractamente ainda, modelo ('paradeigma) . 'Paradeigma' fulcral, mas, segundo nos parece, insuficientemente pensado no seu processo milenar - anterior ao pensamento platónico - que o fez mais tarde, depois de Platão, tornar-se conceito (cunceptum, cum-capio...). Quer dizer que o eidos, o paradeigma (modelo), e ainda a Idea (Ideia) platónicos são - na sua estrutura temporal milenar que os antecede, mas os constitui ainda - qualquer coisa de simulacro, retrospectivamente. Portanto, neste caso, simulacro não no sentido que virá a ser instítuido como oposto mas passível de ser erradamente (segundo Platão) confundido com o "modelo" e com a "cópia" (eíkone). Assim como Platão desconhecia, ou antes, dava preferência ao sentido de "modelo" (paradeigma), "simulacro" (phanstama) e "cópia" (eikone) no seu tempo (Platão não sabia, p.ex. de Foz Côa, Altamira, Lascaux, etc.) também o sentido destes conceitos à luz dos nossos tempos sofreu modificações. Importa portanto, não tanto deixar de pensar esses termos, mas antes deixar de pensá-los (esses termos) exclusivamente nos termos em que eram pensados ao tempo de Platão. Posto que, tanto milenarmente antes de Platão como milenarmente depois dele e depois de nós, se abre um caminho que é preciso pensar.





Outubro/2010


Após estas felizes aventuras saltitonas, a obra ficara abandonada onde se iniciou a sua realização. Na garagem do IPJ. Depois, o seu destino foi o lixo. Resta, entre outras, uma boa referência no belo catálogo da bienal acima mencionado. Arte efémera? Porque não?




quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Pedra-ovo*


Escultura (300/170cm+-) inspirada em pedra com homem-pássaro (Tangata Manu o Make-Make) achada na ilha de Páscoa.
Material utilizado: arame, rede de capoeira, lona, areia da praia, vários tipos de areia de construção civil, acrílico, pó de mármore, cimento branco, cimento escuro, cola (resina acrílica), água, etc. Utensílios: ramos, paus, piassabas, vassouras, pêlos de piaçá (piassaba), pincéis novos e velhos, mãos, dedos, panos, etc.
Medidas: 300x150x150 cm +-.
Na bienal Ambient-arte instalou-se no interior oco da escultura uma lâmpada laranja visível através de uma pequena fresta alguns orifícios.


Esta obra foi encomendada pela Dra. Manuela Costa, delegada do IPJ (Instituto Português de Juventude) em 2001 no âmbito de uma exposição sobre os vários Continentes do Globo na mesma instituição.

Algumas peripécias: realizada em três tardes e algumas horas de noite. Contou-se com a ajuda prestável de dois auxiliares (PE e XA) para as primeiras operações de montagem de redes e de telas do esqueleto da obra. XA tirou as fotos do processo criativo da obra.

Mais tarde, a escultura foi exposta na instalação intitulada "Elementa" (escultura-pintura-vídeo-objectos) no edifício do Banco de Portugal em Leiria (2002) na "Bienal Ambientarte" (Leiria, 2002). Foi a única obra exposta em interior, embora a Bienal consistisse em arte ao ar livre e pública. As razões desta opção deveram-se ao facto da obra ser considerada um tanto frágil ou vulnerável no caso de uma eventual intempérie. E como havia a disponibilidade do salão central do citado edifício optou-se por esse interessante espaço. Com música de fundo, em todo o espaço do edifício, do CD de John Zorn, Red Bird. Red Bird (Jim Pugliese, bass drums). Dark River (Carol Emanuel, harp; Jill Jaffee, viola; Erik Friedlander, cello; Jim Pugliese, percussion).

Título do vídeo: Rio. Camera Sony Handy cam ccd-tr 360e
Realização do vídeo: Luís Tavares
Assistência técnica de vídeo: António Mouzinho; IPJ.

Apoio logístico e colaboração:
Colectivo Perve Arte e Multimédia
Delegação Regional de Lisboa do IPJ
Câmara Municipal de Leiria
Edifício do Banco de Portugal (Leiria)

Instalação de Luís Tavares.

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Texto apresentado na instalação:


"Pedra-ovo"*

Uma abordagem possível da obra

Esta obra inspira-se num objecto arqueológico originário da ilha de Páscoa. Esse objecto é uma pedra na qual se encontra representada uma figura híbrida com formas humanas e de pássaro. Este símbolo remete-nos para o mito cosmogónico de carácter universal cujo sentido radica na imagem do ovo cósmico ou cosmogónico.
A obra em causa pretende reunir várias visões desse ovo ou 'pedra simbólica', as quais se manifestam na forma como foi realizada e interpretada.
Alguns elementos constituintes desta interpretação consistem precisamente no orgânico e no inorgânico, respectivamente na aparência que a escultura ganhou resultante da utilização de tecido, o qual em certas zonas da superfície da obra deixou relevos que sugerem pregas e rugas como se fosse pele, e na utilização de areias e terras várias que, ao sedimentarem, fazem alusão à rocha e à pedra, ou seja, ao mineral, ao geológico. Trata-se portanto duma criação plástica livre duma obra antiga que já por si é alegoria.
Outros elementos que se pretenderam pôr em jogo foram o 'cheio' e o 'vazio', o 'leve' e o 'pesado', o 'sólido' e 'gasoso', o 'maciço' e o 'oco', o 'duro' e o 'flexível', o 'terreno' e o 'aéreo'...
Deste modo, a obra enquanto símbolo do ovo cosmogónico é um trabalho que, enquanto tal, aponta para a cosmovisão onde radica o sentido da envolvência do mundo como 'meio ambiente' mais "global" que poderemos considerar.
De certa maneira este símbolo representa algo no qual vivemos e habita em nós. Daí que nessa "pedra-ovo" ou espaço vital habite um "homem-pássaro", o qual, por sua vez, protege na sua grande "mão-asa" um outro ovo ou pedra.
Se a obra é inspirada num objecto arqueológico, isso vai ao encontro da perspectiva inter-cultural, bem como transtemporal do diálogo dos mitos e da quebra de fronteiras rígidas entre leituras científicas e míticas. Basta lembrar que o símbolo do 'ovo' nas cosmogonias compreende múltiplas culturas e mitos. Desde a arte pré-histórica das cavernas com seu simbolismo da interioridade da 'terra-mater' ancestral, passando pelos mitos antiquíssimos órficos, pelos continentes, oceanos, até à teoria do "Big-Bang" nos nossos dias, que, segundo alguns tem analogias com esse arquétipo.
Assim, pretende-se não só uma ecologia do nosso tempo que é bem precisa, mas também uma ecologia do tempo e dos tempos, nos quais o humano habita e deseja habitar. Um espaço que desejamos recriar como a grande casa (do grego 'oikos', donde deriva 'eco-logia') que todos habitamos e protegemos na enigmática comunicação interior/exterior.



*Texto apresentado na instalação em Leiria

Pequena nota para o visitante da Instalação:
É favor tocar
Qualquer pessoa pode tocar na escultura, passar-lhe a mão sentindo a sua textura. balouçá-la levemente e espreitar para o seu interior, iluminado por uma lâmpada laranja, através de alguns orifícios.

Luís de Barreiros Tavares

2002




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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010


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Capa do catálogo da 'Bienal ambientar-te, Leiria 2002'.
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Foto que consta do catálogo 'Ambientar-te, Leiria 2002', aquando da instalação da pedra-ovo no edifício do Banco de Portugal.

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quarta-feira, 10 de novembro de 2010